Viçosa

 

Viçosa,o progresso mineiro intelectual

A fundação de Viçosa

Reprodução – Primeira Matriz de Viçosa, inaugurada em 1851 e demolida em 1954.

Antes da colonização, a região da bacia do Rio Piranga era habitada por índios Botocudos e Puris, que com os Tamoios pertenciam ao grupo Tupi. Embora percorrida por alguns bandeirantes no século XVII não fora ocupada até então.

O povoamento da região iniciou-se no século XVIII pelas localidades situadas às margens do Caminho Novo – estrada aberta pelo governo colonial para que o ouro fosse levado direto da região das Minas ao Rio de Janeiro, encurtando o trajeto, que antes era feito através das gargantas da Mantiqueira, passando pela Serra do Mar e pela baía da Ilha Grande, litoral paulista, para só então chegar ao Rio de Janeiro. Esse povoamento ocorreu em primeiro momento de forma tímida, uma vez que a Coroa Portuguesa proibia a ocupação da região dos “Sertões do Leste”.

Com a decadência da produção aurífera em Minas Gerais, vários exploradores e suas famílias se deslocaram das vilas mineradoras para a Zona da Mata. A referida região era tida como fronteira agrícola, sem grandes focos habitacionais até a primeira metade do século XVIII.

A atual região norte da Zona da Mata passaria a ser povoada por incentivo do governador da capitania de Minas que, por volta de 1781, distribuiu centenas de sesmarias destinadas à busca do ouro. O povoamento foi fortemente impulsionado ao longo do século XIX pela expansão da lavoura cafeeira. Além dessa, outras atividades econômicas se desenvolveram, como o comércio e outros serviços associados ao seu cultivo.

A ocupação de Viçosa se inicia, propriamente, no século XIX. Em 8 de março de 1800, o Padre Francisco José da Silva obteve do bispo de Mariana – Frei Cipriano – a permissão para erigir uma ermida em homenagem a Santa Rita de Cássia, no local onde hoje está situada a capela de Nosso Senhor dos Passos na Rua dos Passos, centro do distrito sede – essa região passou a constituir o Patrimônio de Santa Rita. A construção da capela é o marco inicial do processo de ocupação do que se tornaria o povoado de Santa Rita do Turvo, topônimo da ermida que marcou o início do povoado acrescido do nome do principal rio que atravessa a localidade – Turvo.

Em 1813, com o aumento do povoado resolveu-se construir um novo templo no local da atual Praça Silviano Brandão. A construção de uma nova igreja em honra à santa padroeira em outro local fez o eixo de expansão urbana mudar em direção a uma área mais plana, próxima ao vale do Ribeirão São Bartolomeu, com melhores condições de se erguer novas edificações, favorecendo o crescimento do povoado.

Em 13 de outubro de 1831 a atual cidade de Rio Pomba, a 100 km de Viçosa, foi elevada a categoria de Vila, passando Santa Rita do Turvo a ser um de seus 14 distritos iniciais (em 1837 chegaram a 20).

O traçado inicial do centro da cidade pouco se alterou ao longo do tempo, mesmo com a expansão local e criação de novas ruas. Contudo, já no final do século XIX, o território de Santa Rita do Turvo encontrava-se significativamente parcelado. O povoado era dividido em três regiões: O Patrimônio de Santa Rita, na Rua dos Passos; o Patrimônio da Matriz, onde se encontra o atual santuário e o quarteirão compreendido entre as ruas Senador Vaz de Mello e Arthur Bernardes, a Praça do Rosário, indo do Córrego São Bartolomeu até o Córrego da Conceição; e o patrimônio de São Francisco que abrangia a área onde atualmente está localizada a Praça Dr. Cristóvão Lopes de Carvalho, Rua Padre Serafim e pelo Cemitério Dom Viçoso.

Segundo José Mário Rangel, em 14 de julho de 1832 o distrito de Santa Rita do Turvo se desmembrou da freguesia do Pomba e tornou-se freguesia. Em 31 de agosto de 1833 foi fundada a Paróquia de Santa Rita, que à época também era uma divisão política. Em 1851 foi inaugurada a primeira igreja Matriz, construída sobre a antiga necrópole que ficava à frente da capela localizada no que hoje é a Praça Silviano Brandão, havendo o desmanche da mesma após término da obra.

Por efeito da Lei Provincial nº 1.871, de 30 de setembro de 1871, Santa Rita do Turvo foi elevada a Vila de mesmo nome. Era constituída, então, de cinco distritos: Santa Rita do Turvo (sede), São Sebastião dos Aflitos de Arrepiados e Curato de Coimbra (desmembrados do município de Ubá), São Miguel do Anta (desmembrado de Ponte Nova) e Barra do Bacalhao (desmembrado de Mariana). A vila foi elevada à categoria de cidade, município, efetivamente, três anos depois (em 3 de junho de 1876), com o nome de Viçosa de Santa Rita, em homenagem ao 7º bispo de Mariana, Dom Antônio Ferreira Viçoso. A 22 de janeiro de 1873 efetivou-se a instalação do município, com a inauguração do edifício a ser sede da Câmara e Cadeia, no local em que hoje se encontra o imóvel de número 136 da atual Praça Silviano Brandão, na esquina direita com a Rua dos Passos. A Câmara começou a funcionar em 12 de abril de 1877, quando o Brasil era ainda governado por Dom Pedro II. Seu primeiro presidente foi o Vereador Carlos Vaz de Mello, que mais tarde se tornou político de expressão nacional, como senador do Império.

Pela lei provincial nº 3171, de 18 de outubro de 1883, e lei estadual nº 2, de 14 de setembro de 1891, foi criado o distrito de Santo Antônio dos Teixeiras e anexado ao município de Viçosa de Santa Rita. Pela lei provincial nº 3387, de 10 de julho de 1886, o distrito de São Sebastião dos Aflitos de Arrepiados passou a chamar-se São Sebastião do Erval. Pelo decreto estadual nº 227, de 6 de novembro de 1890, e lei estadual nº 2, de 14 de setembro de 1891, foi criado o distrito de São Vicente do Grama e anexado ao município de Viçosa de Santa Rita.

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Reprodução – Vista panorâmica do centro da cidade em 1916. No centro da imagem vemos o antigo templo de Santa Rita de Cássia.

Em 21 de dezembro de 1885, durante a administração de Arthur Bernardes, o então presidente da Câmara Municipal de Viçosa por duas legislaturas, Carlos Vaz de Mello, conseguiu que a estrada de ferro chegasse a Viçosa. A chegada do “trem de ferro” da Leopoldina Railway, cuja estação ficava a seis quilômetros de Viçosa – no local hoje denominado Estação Velha ou Estação de Silvestre – foi o marco da chegada do progresso à cidade.

Em 1911 o município passaria a ser chamado somente de Viçosa.

A distância da estação ferroviária do centro da cidade dificultava o embarque e desembarque de passageiros, já que só era possível chegar até lá de carro de boi, charretes e outros meios. Essa situação perdurou por quase 30 anos, até que a estação da Leopoldina foi transferida para o centro da cidade, tendo sua inauguração acontecida em 21 de agosto de 1914, quando a população local já chegava a dois mil habitantes. A partir daí a cidade estava enfim ligada a então capital do país, Rio de Janeiro. Com a construção da estação ferroviária próxima à região central da cidade, consolidada pela construção da nova Matriz de Santa Rita, o centro ampliou seu raio de abrangência e nos arredores da mesma começaram a se instalar comércio, hotéis e novas residências, principalmente de estilo eclético. O crescimento em torno da estação ferroviária é um referencial comum entre as cidades da Zona da Mata mineira.

Reprodução – Maria Fumaça chegando a Viçosa, 1925. Ao fundo observa-se o Grande Hotel, que mais tarde se tornou o Hotel Rubim.

Com essa nova ligação entre a cidade de Viçosa e o litoral, chegaram a cidades as primeiras famílias que iriam formar a colônia libanesa e italiana do município. Alguns libaneses vieram como mascates e iniciou o comércio de tecidos, armarinhos e calçados, que era um comércio inexpressivo até meados do século XX. Também na mesma época chegaram os primeiros italianos, que eram em sua maioria artesãos, alfaiates, caldereiros. Apesar de pequenos esses núcleos participaram ativamente na formação de Viçosa. Trouxeram seus costumes, suas crenças e seus valores, enriquecendo o patrimônio cultural local.

Em 1908 foi fundada a Casa de Caridade de Viçosa, que hoje é o Hospital São Sebastião (em um primeiro momento instalado à Av. Bueno Brandão, só mudando para o atual local à Rua Tenente Kummel, com a o término da construção do edifício em 1930). Em 1922 foi inaugurado o Hospital Regional na Rua Afonso Pena (como parte integrante do Plano de Saúde Pública, do então Presidente do Estado de Minas Gerais, Dr. Arthur Bernardes).

Reprodução – Mapa do município de Viçosa na segunda década do século XX.

Em 1913, foi fundada uma sociedade privada com capital constituído por cotas, com a denominação de Gymnasio de Viçosa (instituição que deu origem à atual Escola Estadual Doutor Raimundo Alves Torres – ESEDRAT), na Praça Silviano Brandão. Em 1917 foi fundada a Escola Normal Nossa Senhora do Carmo, em Viçosa, (atual Colégio Carmo) dirigido pelas Irmãs Carmelitas da Divina Providência, anexou-se a ele, por um curto período, antes de separar-se e se dedicar exclusivamente à educação do sexo feminino. O mais significativo é que ambas se tornaram referências de qualidade de ensino médio na cidade e região.

A Escola Superior de Agricultura e Veterinária, ESAV, foi fundada em 1926, pelo então presidente do Brasil Arthur da Silva Bernardes, viçosense. Participou de sua construção, contratado como engenheiro auxiliar, João Carlos Bello Lisboa. Seu primeiro diretor foi o professor Peter Henry Rolfs, que trouxe um modelo de educação aplicado em escolas da Flórida, Estados Unidos, baseado na tríplice “Ensino, Pesquisa e Extensão” que logo foi difundido pelo resto do país. No ano de 1948 a Escola Superior se tornou Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, UREMG. Em 1969 houve sua federalização, passando a se chamar Fundação Universidade Federal de Viçosa. Eventos marcantes para história da instituição se refletem no crescimento do município – personalidades importantes para a escola superior são também personalidades importantes para Viçosa. Sua implantação dentro do perímetro urbano constitui um fator de cristalização num dos vetores de crescimento da cidade. A Instituição passa a atrair pessoas em busca de emprego e traz estudantes e professores de diversos locais do País, promovendo o crescimento e expansão da cidade.

Reprodução – Construção da nova Matriz de Santa Rita, ao lado do antigo templo que foi demolido em 1954.

Reprodução – Capela do Rosário, localizada no centro da, hoje, Praça do Rosário. Erguida em 1903 e demolida em 1965.

Na década de 1950 a cidade passou por significativas obras de reurbanização, bem como a construção de importantes edificações. As avenidas PH Rolfs e Santa Rita foram reformadas, o atual edifício da prefeitura concluído e foi edificado o prédio do Cine Brasil (esquina da Praça do Rosário com Rua Pe. Serafim) que se tornaria uma referência cultural por décadas. Foi inciada a construção do edifício do Colégio de Viçosa. As praças do Rosário e Silviano Brandão foram redesenhadas e foi erguida a nova matriz de Santa Rita, ao lado da antiga. A construção do novo templo, bem maior e mais sólido que o anterior, naquela época, é dado como marco para o progresso e expansão do município, já que o mesmo estava além das expectativas locais.

Em divisão territorial datada de 31 de dezembro de 1963, o município é constituído de 3 distritos: Viçosa, Cachoeira de Santa Cruz e Silvestre. Pela lei nº001/92, datada de 14 de janeiro de 1992, é criado o distrito de São José do Triunfo. Atualmente, o Município de Viçosa conta com 4 distritos: Viçosa(Sede), Cachoeira de Santa Cruz, São José do Triunfo e Silvestre.

O processo de ocupação do espaço urbano da cidade está intimamente ligado à implantação da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Inicialmente a própria instituição se encarregou de atender a demanda de moradia dos estudantes, construindo, ainda na década de 1920, o primeiro alojamento (agora também conhecido como alojamento velho) e no final da década de 1960 o alojamento feminino. Nessa mesma época foi implantada Vila Giannetti no próprio campus da universidade, destinada à moradia de professores, trazendo para a cidade um dos raros exemplares de urbanismo modernista existentes no interior do país.

A partir da federalização da instituição em 1969 e da criação de novos cursos, na década de 1970, houve uma modificação no cotidiano da cidade, que passou a ter sua dinâmica desenvolvida em razão da Universidade. Nesse momento, os estudantes já não eram totalmente atendidos pela habitação da própria Universidade, e acabam por se instalar no centro da cidade – em pensões ou nas chamadas repúblicas – pela proximidade da área ao campus.

A presença de edifícios na área central marcou essa década, assim como o processo de verticalização do bairro Ramos, na sua parte baixa próxima ao centro, e no início do Clélia Bernardes, principalmente ao longo da Avenida Olívia de Castro Almeida.

Já nas décadas de 1980 e 1990, os alojamentos estudantis se tornaram insuficientes, os estudantes passaram a se alojar inicialmente em pensões e posteriormente nos edifícios, antes ocupados pelos professores. Intensificava-se assim o processo de adensamento do centro e dos bairros próximos a ele. Paralelamente a esse fato, os professores passaram a buscar áreas afastadas do centro da cidade, surgindo assim os primeiros condomínios horizontais, como o Condomínio Residencial Bosque do Acamari de 1983. Marca também o início do processo de verticalização, com edifícios com até quatro pavimentos. A tendência de verticalização prossegue no bairro Ramos e Clélia Bernardes, assim como na área da Praça Silviano Brandão, Avenida Santa Rita e Rua Gomes Barbosa. Também surgem, neste período, os primeiros edifícios de uso comercial e de serviços. O edifício Panorama, 12 pavimentos, foi o primeiro a contar com elevadores na cidade, ainda na década de 1970.

A ausência de trens de passageiros desde a década de 1980 incentivou a desativação da linha em 1994, nos trechos Três Rios – Ligação e Ponte Nova – Caratinga.

Nos anos 90, o processo de verticalização do Centro se intensifica, surgindo edifícios mais altos, com gabarito em torno de 10 pavimentos. Entretanto, com a falta de terrenos no centro propriamente dito e o papel indutor da UFV, a tendência à verticalização se desloca para a Av. P.H. Rolfs e seus arredores, a Ladeira dos Operários e a Rua José Antônio Rodrigues, proximidades das “Quatro Pilastras”, bem como a Avenida Santa Rita e a Rua Gomes Barbosa. É também na década de 90 que os bairros de Fátima, Lourdes, São Sebastião, Santo Antônio, João Braz, entre outros, começaram a se verticalizar, ainda que com gabaritos menores, em torno de cinco pavimentos.

A partir do ano de 2001, instalaram-se na cidade instituições privadas de ensino superior, próximas à BR-120, instaurando um novo vetor de crescimento da malha urbana. A instalação dessas instituições reforçam a vocação do setor de serviços. Fatos históricos ligados à UFV influenciaram diretamente a evolução histórica e social do município.

O processo de verticalização da cidade e a chegada desenfreada de novos estudantes causou, além de problemas estruturais, reclamações por parte do povo viçosense acerca da qualidade de vida. No dia 17 de março de 2011, após várias manifestações populares sobre o não cumprimento da lei do silêncio, foi imposto que estabelecimentos noturnos que possuem isolamento acústico só poderiam funcionar até às 3h, os demais deverão fechar até as 2h, como dita o Código de Posturas do Município de Viçosa.

Fachada principal do edifício que abriga a sede do TecnoParq / Centev, no prédio do antigo Patronato Agrícola.

A economia local, baseada no setor de serviços, é dependente da população flutuante, que reside, em sua maioria, durante o período escolar na cidade. A expansão urbana acontece de modo orgânico, adensando regiões já saturadas e com infraestrutura antiga. Atualmente há discussões na sociedade sobre os benefícios e malefícios de não se controlar o modelo de crescimento local. Há problemas de drenagem pluvial, transportes, pavimentação, ocupação em áreas de risco, supressão dos cursos d’água, poluição visual, sistema de esgotos e de abastecimento, além de já surgirem problemas quanto ao abastecimento de energia elétrica. A Universidade participa das discussões, já que influencia diretamente a cidade.

Apesar dos problemas urbanos, o município se destaca como pólo microrregional, atendendo uma demanda de quase 200 mil habitantes que recorrem à Viçosa na busca por serviços de saúde, educação e comércio. O município tem se tornado uma referência cultural ao promover eventos de grande porte. Além disso, as pesquisas realizadas pelas instituições de ensino superior levam o nome da cidade a se tornar referência científica.

Em abril de 2011 foi inaugurado o Parque Tecnológico de Viçosa – TecnoParq – que é uma parceria da UFV, Governo de Minas e Prefeitura Municipal. O Parque Tecnológico de Viçosa, o primeiro de Minas Gerais, está em desenvolvimento desde o início da década de 2000, já com diversas empresas incubadas, além de inúmeras ações já desenvolvidas. Com a inauguração da sede, passa agora a contar com um espaço mais adequado ao desenvolvimento das ideias, que faz de um parque tecnológico diferente de um industrial. O TecnoParq é sediado nas instalações revitalizadas e ampliadas da antiga Escola Agrícola Arthur Bernardes, vinculada à extinta Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem). As instalações ficam às margens da BR-120, a cerca de 5 quilômetros do campus da UFV.

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